sábado, 31 de janeiro de 2009

1983

Lojas Guaspari no coração de Porto Alegre
Setembro 19.


  1. Juntando as coisas que faltam para a produção.

Produção em andamento. Cláudio Cruz foi no Lojas Guaspari (quem lembra?) conseguir algumas roupas. Compramos os guarda-pós para os alunos na Casa dos Aventais. Do sobrado da Dario Pederneiras (onde hoje tem um edíficio chamado Solar dos Conte) surupiei duas camisas sociais do meu Pai, alguns sapatos velhos e mais dois pares de óculos que ele não usava mais. Um amigo do Gertaldo Lopes, Silvio Sibemberg, dono da Lojas Gang convocou para uma reunião onde defende a idéia de que mudassemos o texto do peça. Na cena em Pedro vai para a guerrilha, Dona Elvira, sua mãe diz:

"Tua calça Lee está no arame, vai buscar!" - substituiríamos por calça Lewis que era vendida na Gang. Elvira. Eu não estava na reunião, mas o grupo rejeitou de imediato a proposta. A Gang acabou dando uma porção de coisas entre elas os abrigos com a letra “A” da cena da educação sexual. Mudamos o texto, tiramos calça Lee e colocamos calça de brim, assim eles nos municiaram com todo o estoque de jeans. Foi o máximo de concessão permitido. O Geraldo conseguiu uma loja de sapatos que tem um acervo de antiguidades: Lojas Jahu do Rafael outro grande amigo do Geraldo. Como se pode ver o teatro assim como a vida é uma grande rede de amizades.

O Rafael foi uma daquelas amáveis pessoas que seguiram o “Bailei na Curva” durante anos. Reza a lenda que no ranking de quem mais assistiu a peça o Rafael estaria disputando o ouro juntamente com a a minha irmã Salete e o fotógrafo L.A. Guerreiro todos com mais de quarenta assitências. Num domingo depois de assistir mais uma apresentação da peça, Rafael saiu de moto e, na madrugada, acidente-se. Muitos dias em coma, muita expectativa e recuperação lenta e a volta por cima. Retornando do país de intermediario entre a vida e a morte assistiu a última montagem do Bailei escondido na última fila. Uns dias depois me ligou para falar sobre a peça. Chorando em silência no escuro do teatro. Foi se apresentando como se eu não me lembrasse dele. Claro que eu lembrava, eu sou como um elefante que não esquece, sobrevivo disso, da memória, do afeto e dos pedaços de vida que partilho em cada encontro.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

DIÁRIO A PROCURA DE UM EDITOR



Pois é, estou fechando um ano quase com este blog no ar.
Foram quase mil visitantes. Repasssei boa parte de minha vida neste blog. O ano de 1983 quase todo postado, dia-a-dia, num exercício de reflexão sobre o passado e cuidado com o que se vai viver. É um equilibrio precário. O tempo é cruel e generoso ao mesmo tempo. Nos oferece experiência e capacidade para absorver os impactos da vida, mas rouba a juventude de tal forma que se não acontece com todos eu acharia que era uma sacanagem comigo. Aliás, mesmo acontecendo com todo o mundo, acho uma sacanagem envelhecer. Mas como diz o popular: "pior do que envelhecer é não envelhecer".
Pois passou o tempo e achei que pouca gente teceu comentário aos posts. Não desqualificando quem comentou, pelo contrário, enaltecendo quem se colocou, por isso agradeço a todos. Porém, comparando com o número de vistações com o número de coments a relação é pequena. Concluo que tem muita gente lendo e pouca comentando.
Fiquei a me perguntar o porque deste fenômeno. Concluo provisoriamente que é porque trata-se de uma postagem pública e carece da privacidade que um livro tem com seu leitor. Por isso, decidi que a continuação dever ser impressão no papel. Então, o diário de montagem da peça Bailei na Curva, as reflexões do autor referenciada no tempo e no espaço que foi Porto Alegre no ano de 1983 ficam a espera de editor.
Peço ajuda a todos os amigos que leram o blog até agora, que gostaram do que foi escrito, que se emocionaram para que me ajudam nesta empreitada. Preciso de contatos, por favor, se souberam, indiquem.
E obrigado a todos. Amo todos vocês.