sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009




Outubro 15.




  1. Dublagem do “Verdes Anos”.


  2. Bailei na Curva - Quinta apresentação.

Não pude ir para o Rio para fazer a dublagem da minha participação no filme “Verde Anos”. O professor Cid que era assediado por uma aluna interpretada pela Xala Filipi. Aparentemente havia a dificuldade de sair de Porto Alegre pois estava em cena no fim de semana. Mas de fato, nem se chegou a este ponto do impasse. "Verdes Anos" primeiro longa 35 mmm foi filmado em baixissimo orçamento. Tudo que se podia fazer para contenção de despesas era feito. Por isso, a opção dos produtores do filme foi dobrar várias vozes e entre ela a minha. Por isso, quando vejo o Professor Cid que eu interpretara, com a voz do Orlando Nascimento debochadamente grave, tenho certeza que ele interprecolocou aquela voz só para me sacanear. O Orlando era reconhecidamente um pândego. O que ele fez não tinha nada a ver com a minha imagem e a minha interpretação. Diferente das dublagens do Sergio Lulkin que recriou a voz do João Biratã de modo que parecia que tido sido gravado com o próprio. Apesar disso, o filme se tornou um cult no meio cinematográfico e até hoje passa no Canal Brasil. E num sentido mais paranóico achava que os diretores do filme não tinham gostava da dublagem que eu fizera para o Interlúdio e por isso não fora incluído na viagem. Era um período de insegurança. Não se sabia de fato a extensão de cada gesto. De qualquer modo, a locução do Interlúdio estava mesmo péssima e foi refeita no ano de 2001, condição si ne qua non para entrar na programação do Canal Brasil.



Fiquei em Porto Alegre amargando o sentimento de exclusão. Mas quando entrei em cena na quinta apresentação da peça, todo o ressentimento (exagerado reconheço, mas enfim, somos artistas!) e o público aplaudiu de pé, redimindo todas as dores. A magia do palco.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009



Outubro 6.



  1. Vale dos Pimentões

  2. Patsy, Lila & Luciene


A peça O Vale dos Pimentões do grupo Balaio de Gatos estreou no Circulo Social Israelita. Não pude ver pois estava totalmente mergulhado no lançamento do Bailei. Teatreiros tem isso, os trabalhos se tornam obsessão e parece que nada mais existe no mundo. No ano seguinte tentei assistir a peça no Projeto Unicena. Mas quando cheguei no Salão de Festas da Reitoria, já estava completamente lotado. Havia uma imensa fila esperando para uma sessão dupla. O Balaio já rivaliza com o Grupo Do Jeito Que Dá. De um lado o Balaio fazia teatro experimental, com narrativas fragmentadas e inserções multimídia enquanto que o Do Jeito Que Dá contava histórias com começo meio e fim. Nós éramos os bons meninos e elas eram as meninas más. Atração e rivalidade são sentimentos comuns entre artistas de teatro. Havíamos dividido o palco no início dos dois grupos. Abutres da Rebentação e Não Pensa Muito Que Dói fizeram uma sessão dupla no Teatro do DAD no final do ano de 82. A peça do Balaio entrava as 20 hs e a nossa as 22 horas. Mas como houve atraso acabamos em cena quase onze da noite. Mas o incidente mais grave foi que durante a apresentação, a sonoplasta usou o som no volume máximo queimando as caixas de som, que eu trouxera da minha casa. Fiquei muito irritado e fui discutir com o elenco dos Abutres. Para minha surpresa os rapazes mandaram as meninas brigarem comigo. Como o final da peça era feito com quase todos atores desnudos, acabei discutindo com três mulheres só de calcinhas. Não sabia se brigava ou olhava para o corpo delas. No final não deu em nada.
A coincidência da estréia no mês de outubro e o teatro lotado, só serviu para atrasar o meu encontro explosivo e criativo com Patsy Cecato que era junto com Luciene Adami e Lilá Vieira, uma das estrelas do Balaio do Balaio de Gatos.


Outubro 8.


  1. Terceira apresentação.


Bateu uma gripe, uma dor no corpo, um mal estar. Mistura de cansaço e stress. Eu estou sem voz, completamente rouco. Mesmo assim faço a peça na garra.
Ressaca da estréia.



Elispe asmático


Uma das coisa que aprendi nestes anos de psicanálise foi de lidar com as sindromes psicosomáticas. É uma espécie de loucura do corpo. Quem pira não são as idéias, mas sim o corpo. Acho que foi isso que aconteceu. Hoje estas coisas tem o nome de stresse (cuja tradução é acento!) e coisa e tal. Pois eu vivi isso e entendo que tem coisas que a mente não é capaz de digerir. Quando isso acontece, o corpo toma conta e sente aquilo que a mente está tentando evitar. Psicossomático é o mesmo que somatopsicótico.


Outubro 9.



  1. Cadê o público?

Um negócio estranho aconteceu. Tivemos meia casa. Houve um problema nos pontos de vendas e metade dos bloquetos de ingressos se perderam numa gaveta que só foi aberta um dia depois da apresentação.


Anotação ao pé da página: dinheiro Caixa / foto-filme / aula-tarde / Geraldo Lopes.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009




Outubro, sábado, 1.





  1. Estréia de Bailei na Curva no Teatro do IPE.


Viramos a noite no teatro acertando o ensaio de luz. Foram nove meses de ensaios vinte e quatro horas de trabalho de parto. Fui dormir as sete da manhã. Ao meio dia acordei e fui assistir o jornal do almoço. Surpresa minha que neste dia apareceu o Abrão Slavutzky na TV dando uma entrevista. Imediatamente liguei para ele e convidei para a peça.
No teatro, levei uma garrafa de conhaque. A cada risada eu tomava um gole. Terminei e peça bêbado.




Outubro, domingo, 2.





  1. Espetáculo do segundo dia.



O espetáculo do segundo dia tem a tradição se ser ruim. A explicação é simples. Na estréia o elenco está tenso e concentrado. Erra pouco. No segundo dia a peça ainda não está suficientemente sob controle, mas não existe mais a ansiedade da estréia. Os atores relaxam e a encenação afunda. Este é o esquema clássico. Falamos sobre isso antes de entrar em cena. O segundo dia foi ainda melhor do que a estréia. O fato é que não havia espaço para erros pois estávamos ensaiando no teatro há bastante tempo. Isso faz diferença.

Outubro, 3, segunda-feira.





  1. Crítica na ZH.


  2. Reunião de avaliação com o Geraldo Lopes.


Encontro o Oscar Simch na Rua da Praia. Manhã de sol, caminhava e a luminosidade da cidade alimentava meu bem estar. Até hoje me fascina o centro da cidade. Tenho pena de São Paulo e do Rio de Janeiro que já perderam os seus. Oscar segura o meu braço. Saiu a crítica do Cláudio Heemann na Zero Hora. Ele me mostra:



"Alerta na observação realista, simpática na caricatura cômica, precisa no retrato de costumes, autêntica na linguagem coloquial Bailei na Curva vale tanto como texto quanto interpretação e encenação. Aliás, parece congregar do modo indissolúvel estes três aspectos. O espetáculo brota com facilidade de uma movimentação bem desenhada e ritmada. O acerto de diálogos encontra correspondência ma vitalidade e adequação dos atores. Tudo acontece num palco nu, vestido apenas de algumas cadeiras. A narrativa se desdobra com clareza e a comunicabilidade dos desempenhos não encontra obstáculos para a sensibilizar a platéia. Há um toque poético, não isento de certa melancolia, que aprofunda o alcance do quadro proposto. Fica, com isso, demonstrada a harmonia e afinação do elenco, além da sensibilidade e inteligência da direção. Regina Goulart, Cláudia Accurso, Lúcia Serpa, Márcia do Canto, Cláudio Cruz, Flávio Bicca Rocha e Júlio César Conte merecem as flores que o público da estréia atirou no palco. "



Foguetório na minha cabeça.

Reunião com Geraldo. Ele é porta-voz de um questionamento que lhe foi feito: O que o Júlio vai fazer agora? Qual será o próximo trabalho do Júlio. Olhei para o Geraldo espantado, tentando decifrar aquele enigma. A peça estreara há três dias atrás e já queriam saber o que seria feito depois?



Ainda bem que não precisei responder.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Uma raridade: o certificado de liberação de Bailei na Curva com data de 28 de setembro de 1983 quando ainda havia ainda a possibilidade da peça se chamar "Primeiro de Abril".

Setembro 28.


  1. Telefonema do Geraldo.


Geraldo me ligou a respeito de uma chamada que recebeu da Censura Federal. Um calafrio. Será que censuraram a peça? Não só não houve cortes como o diretor inflado pelos censores que adoraram a peça, solicitaram vários convites.

Anos depois, outro ensaio para a Censura, numa montagem no Rio de Janeiro, aconteceu algo também inusitado. Na cena em que Pedro vai para a clandestinidade e assume a luta armada, o ator Carlos Lagoeiro fez uma das maiores interpretações do personagem Pedro que tive oportunidade de assistir. Eu ensinava a operação de luz para o técnico do teatro quando uma força vinda do palco chamou minha atenção. Lagoeiro se derramava de emoção em sua despedida da mãe, a costureira Dona Elvira. Ao final do ensaio, uma censora, uma mulher loira, alta, de quase quarenta anos estava em prantos. Aplaudiu de pé e começou a falar com os atores. Estes se agruparam para escutar o relato. Desci da cabine de luz e som e fui até a beira do palco a tempo de escuta-la dizer:
- Minha mãe é costureira e meu irmão foi desaparecido pelo DOPS.
A ficção tem formas estranhas de se realizar na realidade.

Setembro, 30.



  1. Sonho que tive antes da estréia

"Estamos estreando a peça. O local parece o ginásio do Petrópole Tênis Clube, só que adaptado para o teatro. Há um grande público de espectadores misturado com torcidas de futebol. Muita gente nas arquibancadas. Começa a peça. Sinto que as coisas não andam. Ruídos na platéia. Pelas janelas do ginásio vaza uma luz difusa. Público começa a se levantar e abandona a sala de apresentação. Em pouco tempo de encenação o ginásio está vazio. O público que era imenso vai embora. Voltamos para o segundo ato e não havia nenhuma pessoa assistindo a peça. Uma vez que está tudo montado, luz, sonoplastia, proponho:
- Vamos aproveitar e ensaiar para a próxima apresentação."



Foi um sonho clássico. Quase todos artistas têm sonhos parecidos. Sonha-se que as falas são esquecidas. Sonha-se que alguém não consegue entrar em cena, que cai um refletor, que falha o som, um pedaço do cenário cai, que não se consegue cantar. Reflete uma espécie de angústia que sentimos quando estamos frente a imensidão do próprio desejo. Relaciona-se com aquele tipo de sonho em que se aparece nu em lugares públicos. Tem algo de exibicionismo. Algum tempo depois descobri que é um sonho de ambição e de exibicionismo que aparecem representados pelo seu oposto. Ambição é um impulso uretral conforme Freud demonstrou na Interpretação dos Sonhos onde ele relata um sonho seu no qual um menino urina na cama e o pai dele vaticina será um grande homem ou um grande bandido. O menino era Freud.
A anotação desse sonho está num papel amassado de uma folha arrancada. Preso por um clipe na agenda. A letra é quase ilegível, anotação feita ao despertar. A análise já tinha terminado, mas, como toda a análise, é interminável. Cessaram os encontros analíticos, mas depois que se é inoculado pelo pensamento psicanalítico a referencia permanece na mente num processo interminável. O sonho funcionou de duas formas. Como uma advertência no plano da realidade, cuidados eram necessários para evitar uma catástrofe. Por outro lado, restos de pensamentos mágicos me davam a impressão de uma profecia invertida e por isso mesmo guardei este sonho como um talismã. Anos depois, num processo de re-análise, contei este sonho para o Abrão e ele, com a generosidade que lhe é própria, centrou a interpretação na frase final do sonho, destacando a capacidade de enfrentar as dificuldades em situações adversas. Em Forqueta, ainda criança, dentre os escombros da memória, guardo um quadro pendurado em cima da minha cama com um anjo da guarda protegendo um menino que passava perto de um abismo. Minha reza predileta, naqueles tempos em que eu rezava, era assim:



"Santo anjo do senhor meu zeloso guardador.
Se a ti me confiou a bondade divina.
Levai me sempre pelo bom caminho."


Até hoje, perto das estréias, sempre anseio por este mesmo sonho talismã, sonho premonitório que me acompanha como um anjo da guarda.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Setembro, 21.


  1. Ligar para a Opus Promoções.

Entramos no Teatro do IPE. A sala estava fechada há algum tempo. Um auditório para cento e vinte pessoas já não era usado nem para palestras. O ar condicionado funcionava, embora o barulho do aparelho fosse insuportável. Comunico ao Geraldo as condições do teatro e que não há refletores disponíveis. Em poucas horas chegam vinte refletores, cabos, gelatinas e uma mesa de luz. Eu olho para aquele mundaréu de spots no chão e me apavoro imaginando a despesa e o estouro do orçamento.

O que para a Opus era o corriqueiro para mim era uma exorbitância. Não estava acostumado.
Combino como o Hermes, acho que com dez refletores se pode fazer uma boa luz. E dou a ordem de devolver o resto. Hermes intervém, salta na minha frente e manda que os funcionários deixem todos os refletores onde estão. Vira-se para mim e afirma que quer todos aqueles refletores. Já que estão aí vamos usar.

Elipse 1

Hoje penso que vinte refletores não são nada para iluminar um espetáculo. Mas tenho que confessar que ali, em 1983, recém saídos da escola, com um profissionalismo frágil e nascente, nunca tinha visto usar tantos refletores numa só peça.

Setembro, 27.

  1. Ensaio para a Censura.

  2. A mancada do Heitor de Opus.

Os ensaios para a Censura eram do modo geral um protesto contra tal exigência. O que se via no palco era, de modo geral, um arremedo do espetáculo. Pois, num primeiro período de resistência, fazia-se tudo para confundir os censores. Textos eram mudados. Cortava-se cena, os tempos da trama eram alterados. Tudo de modo a encher o saco e atrapalhar os censores. Cortavam-se textos que se imaginava possíveis de serem censurados e, durante a temporada, acabamos tendo problemas. Pois a Censura voltava e acabava dilapidando a obra. Houve até um censor que estudou comigo na Escola de Teatro, segundo ele para cortar as obras com mais critério. Boa piada. Um censor consciente era tudo o que não se precisava. Este “colega” dormia nas aulas de Evolução do Espetáculo e numa oportunidade dormiu em no ensaio de uma peça infantil, “As Aventuras de Um Diabo Malandro”. O diabo era eu.


Num segundo momento, o modo de enfrentar a censura mudou. Ao invés do corte e a omissão, optou-se pelo exagero. Quando havia um palavrão, o ator emendava mais dez sinônimos. Quando havia um desnudamento insinuado, o elenco escancarava a nudez crua. Quando havia situações políticas, multiplicava-se as metáforas. O censor evidentemente cortava. E nesta hora entrava o produtor e o diretor a negociar. Acabava ficando quase na medida do que se queria.


Quase.


O ensaio da censura do Bailei na Curva foi uma experiência inusitada. Tínhamos pouco tempo para ensaios gerais e resolvemos aproveitar aquele da censura, como um ensaio completo. Solicitei para o elenco fazer a peça como era mesmo. Os tempos já estavam arrefecendo os ânimos ditatoriais, ares democráticos arejavam os corredor da burocracia militar e prenunciava a abertura. Depois de duas horas de espetáculo escuto palmas. O censor aplaudiu. Aproximou-se de mim e me parabenizou. Levei um susto. Não era para ele gostar e por um momento pensei que a peça tinha errado o alvo. Fiz uma brincadeira dizendo que se eles gostaram que então não cortassem nada.

Na cama, insone, olhando o teto, imaginava o estrago que a Censura poderia fazer.

Na Opus converso com Heitor. Ele é o braço direito do Geraldo, bom produtor mas um pouco distraído. Ele me mostra o release de divulgação. Bailei na Chuva no Teatro do IPE. Ele pergunta se eu gostei. Leio de novo: chuva? Todos os releases tiveram que ser refeitos e os funcionários passaram a tarde telefonando para os jornais e rádios. O Heitor durou mais algumas semanas e foi substituído por Carlos Konrath, hoje sócio proprietário da Opus.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

1983

Setembro 20.

  1. Ensaio para convidados.
  2. Haidée Porto.
  3. Gravação trilha sonora no ap do Flávio.

1. Ensaio para convidados

O espetáculo estava quase pronto. O esqueleto da peça de pé. Faltava a carne da interpretação e a alma do público. Por isso, fizemos um ensaio para convidados. Haidé Porto foi uma das convidadas. Uma espécie de madrinha da peça acompanhava o trabalho desde o Não Pensa Muito Que Dói que abriu o Projeto Encena idealizado por ela. Estaav presente também algumas pessoas da escola de teatro, mas a grande expectativa recaía sobre a Haidé. Fizemos um ótimo ensaio, uma hora e quarenta e cinco minutos de ação dramática intensa e pura.

2. Haidée

Ao final esperamos os comentários. Ela iniciou pela cena da Faculdade. Disse que sentiu falta da agitação, da política e da efervescência cultural. Percebi que estava um busca de sua própria geração. Como estava mostrando a minha, tomei a crítica como elogio a subjetividade e a fidelidade geracional. O tempo que passei faculdade, tanto no curso de Medicina quanto no de Teatro, era marcado pela timidez e pelo medo. A retomada do Movimento Estudantil era insipiente e o clima de chacota permeava os ativistas de Esquerda apelidos de Esquerda Festiva. Embora boa parte dos participantes de Libelu, da Avanlu, Roupa de Briga e outras tendências trotkista, maoistas ou independentes veio a ocupar lugar de destaque na administração pública e determinando as políticas do Estado e Município.

Depois do ensaio, o elenco todo se abraçou como se houvéssemos estreado. Escutamos s a opinião de todos, mas lá não fundo de nós, não nos importávamos mais com o que as pessoas falavam. Sabíamos que estávamos perto de algo muito grande, bem maior do que nós.

Elipse 1

E, tirando o folclorico adjetivo de festiva adicionado a esquerda, um fato não há o que contestar: as melhores festas de UFRGS - de todos os tempos - eram as organizadas pela facção trotskista Liberdade e Luta, a famosa Libelu.

3. Gravando a trilha

Na madrugada me reuni como o Ely e o Flávio no apartamento dele na Tiradentes. Luis Alberto Ely era o nosso técnico de som. Na verdade trabalhava na Caixa Econômica e fora uma aposta do Hermes Mancilha. Como todo bancário, tinha um artista aprisionado dentro dele. O Ely adorava som. Tinha um mixer caseiro que seria a nossa salvação na edição musical. Montamos um pequeno estúdio completamente improvisado. Dois gravadores, um prato, amplificador e caixas de som. E o famoso mixer do Ely. Avançamos na madrugada gravando em nosso Estúdio. Tudo era de uma precariedade absoluta. Hoje com MP3, som digital, dolby, surrounder e estúdios a disposição, constatamos que “Bailei na Curva” deu certo por uma obra do destino que puxava os cordões muito além de nós. O Flávio que também era bancário antes de libertar o artista dentro dele, foi dormir e o Ely cansou. Fiquei de terminar a trilha na manhã seguinte. Fiz a edição final do som. Na última hora resolvi colocar a música que Beto Guedes fez para o filho dele. Era uma apologia a vida e usei na cena em que o bebê era embalado enquanto Ana lia o poema final. Além da beleza da música, o título era também o nome do meu sobrinho.
Foi pensando no Gabriel Moojen que inseri esta música.

Elipse 2

Gabriel foi meu primeiro sobrinho, primeiro neto, primeiro tudo. Carismático desde que nasceu foi imensamente pararicado pela família. Fez o Curso de Jornalismo e, recém saído da faculdade assumiu a apresentação do Prgrama Radar na TVE Porto Alegre. O sucesso foi tão grande que logo foi para a RBS TV e criou o PATROLA. Da RBS foi pas MTV e passou anos viajando pelo mundo no programa Mochilão. Hoje trabalha na Rede Globo.