- Sobre o conceito de transferência.
Na aula de psiquiatria na Divisão Melanie Klein do Hospital São Pedro, a discussão foi sobre transferência. Como se sabe transferência é um fenômeno descoberto por Freud no qual o paciente projeta na figura do analista suas relações mais primitivas. Este fonômeno ganhou importância pois é justamente por causa dele que o analista tem ferramentas para tratamento de doenças psíquicas, uma vez que ao atualizar sobre o analista vínculos passados e primitivos, cria-se as condições para alterar padrões antigos e possibilitar novas repostas a antigos problemas. Ou seja, cria-se as condições de aprender com a experiência.
Na segunda parte da aula foi de supervisões. A paciente do Fábio, um colega de turma, parou o tratamento. Chegamos a conclusão que foi um abandono. Fábio sustentou até o fim que foi uma alta e bem sucedida. Questões de ponto de vista. Cura em duas sessões é coisa para traumatologista. Depois, dele apresentei o caso da minha moça de olhos tristes. Relatei que ela chegara no atendimento muito assustada. Disse que achava que estava ficando louca. Perguntei porque e ela respondeu que estava me vendo em todos os lugares. Eu já imaginara que era fruto da transferência quando ela falou:
- Essa semana estava vendo TV e vi o teu rosto na cara de um monstro de uma propaganda.
Dra. Lucrecia, muito sagaz, perguntou se eu fizera mesmo a propaganda. Os colegas riram da pergunta. Só pararam quando eu disse que sim. Era eu mesmo o monstro que assombrava minha paciente. Minha sorte foi que, durante a sessão, havia dito para a paciente que de fato, fora eu que interpretara o Carimbador Maluco e que não era um montro de sua fantasia. Ela sentiu-se aliviada. Aprendi que a verdade pode ser dura, pode ser engraçada, pode ser trágica, mas é sempre verdade e por isso, mitiga o nosso sofrimento pois remete para aquilo que não pode deixar de ser. A verdade alivia. Quando dita com amor.
Graças ao mestre Freud que invetou o homem como a gente conhece hoje.
Agosto 30.
- Reunião com Geraldo da Opus para quantificar a produção.
Eu estava muito tenso. Quantificar uma produção era a pauta da reunião. Para mim a questão era um enigma da matemática moderna: como quantificar o nada. Fazendo teatro com se fazia até então era a inveção do zero. Não havia produção, não havia dinheiro, não havia projeto mínimo de organização. Com estas premissas sentei na frente do Geraldo para aprender. Ele estabeleceu um plano mínimo para a realização de uma peça de teatro.
Anotação ao pé da página: Dinheiro da Distribuidora; Vila: Divisão Melanie Klein Geraldo Lopes – Régis C.
- Reunião com Leisa Serpa no Teatro do IPE.
Reunião no Teatro do IPE, com Leisa Serpa, mãe da Lúcia. Ela disse que queria ativar o teatro até então usado como auditório. E logo confirmamos as datas. Nem precisei argumentar nada. E ainda por cima, conseguimos o teatro para ensaiar. Uma preciosidade que gerou frutos, pois ensaiar no ambiente de apresentação é uma raridade que só acontece quando um produção aluga ou é proprietário de uma sala de espetáculos. Descobrimos que o palco é material de trabalho do ator, como uma cama para o amante, quando mais usa, mais lhe pertence.
Foi desta forma que colocamos o Teatro do IPE no mapa da cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário