- Juntando as coisas que faltam para a produção.
Produção em andamento. Cláudio Cruz foi no Lojas Guaspari (quem lembra?) conseguir algumas roupas. Compramos os guarda-pós para os alunos na Casa dos Aventais. Do sobrado da Dario Pederneiras (onde hoje tem um edíficio chamado Solar dos Conte) surupiei duas camisas sociais do meu Pai, alguns sapatos velhos e mais dois pares de óculos que ele não usava mais. Um amigo do Gertaldo Lopes, Silvio Sibemberg, dono da Lojas Gang convocou para uma reunião onde defende a idéia de que mudassemos o texto do peça. Na cena em Pedro vai para a guerrilha, Dona Elvira, sua mãe diz:
"Tua calça Lee está no arame, vai buscar!" - substituiríamos por calça Lewis que era vendida na Gang. Elvira. Eu não estava na reunião, mas o grupo rejeitou de imediato a proposta. A Gang acabou dando uma porção de coisas entre elas os abrigos com a letra “A” da cena da educação sexual. Mudamos o texto, tiramos calça Lee e colocamos calça de brim, assim eles nos municiaram com todo o estoque de jeans. Foi o máximo de concessão permitido. O Geraldo conseguiu uma loja de sapatos que tem um acervo de antiguidades: Lojas Jahu do Rafael outro grande amigo do Geraldo. Como se pode ver o teatro assim como a vida é uma grande rede de amizades.
O Rafael foi uma daquelas amáveis pessoas que seguiram o “Bailei na Curva” durante anos. Reza a lenda que no ranking de quem mais assistiu a peça o Rafael estaria disputando o ouro juntamente com a a minha irmã Salete e o fotógrafo L.A. Guerreiro todos com mais de quarenta assitências. Num domingo depois de assistir mais uma apresentação da peça, Rafael saiu de moto e, na madrugada, acidente-se. Muitos dias em coma, muita expectativa e recuperação lenta e a volta por cima. Retornando do país de intermediario entre a vida e a morte assistiu a última montagem do Bailei escondido na última fila. Uns dias depois me ligou para falar sobre a peça. Chorando em silência no escuro do teatro. Foi se apresentando como se eu não me lembrasse dele. Claro que eu lembrava, eu sou como um elefante que não esquece, sobrevivo disso, da memória, do afeto e dos pedaços de vida que partilho em cada encontro.
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