segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

1983

Setembro 20.

  1. Ensaio para convidados.
  2. Haidée Porto.
  3. Gravação trilha sonora no ap do Flávio.

1. Ensaio para convidados

O espetáculo estava quase pronto. O esqueleto da peça de pé. Faltava a carne da interpretação e a alma do público. Por isso, fizemos um ensaio para convidados. Haidé Porto foi uma das convidadas. Uma espécie de madrinha da peça acompanhava o trabalho desde o Não Pensa Muito Que Dói que abriu o Projeto Encena idealizado por ela. Estaav presente também algumas pessoas da escola de teatro, mas a grande expectativa recaía sobre a Haidé. Fizemos um ótimo ensaio, uma hora e quarenta e cinco minutos de ação dramática intensa e pura.

2. Haidée

Ao final esperamos os comentários. Ela iniciou pela cena da Faculdade. Disse que sentiu falta da agitação, da política e da efervescência cultural. Percebi que estava um busca de sua própria geração. Como estava mostrando a minha, tomei a crítica como elogio a subjetividade e a fidelidade geracional. O tempo que passei faculdade, tanto no curso de Medicina quanto no de Teatro, era marcado pela timidez e pelo medo. A retomada do Movimento Estudantil era insipiente e o clima de chacota permeava os ativistas de Esquerda apelidos de Esquerda Festiva. Embora boa parte dos participantes de Libelu, da Avanlu, Roupa de Briga e outras tendências trotkista, maoistas ou independentes veio a ocupar lugar de destaque na administração pública e determinando as políticas do Estado e Município.

Depois do ensaio, o elenco todo se abraçou como se houvéssemos estreado. Escutamos s a opinião de todos, mas lá não fundo de nós, não nos importávamos mais com o que as pessoas falavam. Sabíamos que estávamos perto de algo muito grande, bem maior do que nós.

Elipse 1

E, tirando o folclorico adjetivo de festiva adicionado a esquerda, um fato não há o que contestar: as melhores festas de UFRGS - de todos os tempos - eram as organizadas pela facção trotskista Liberdade e Luta, a famosa Libelu.

3. Gravando a trilha

Na madrugada me reuni como o Ely e o Flávio no apartamento dele na Tiradentes. Luis Alberto Ely era o nosso técnico de som. Na verdade trabalhava na Caixa Econômica e fora uma aposta do Hermes Mancilha. Como todo bancário, tinha um artista aprisionado dentro dele. O Ely adorava som. Tinha um mixer caseiro que seria a nossa salvação na edição musical. Montamos um pequeno estúdio completamente improvisado. Dois gravadores, um prato, amplificador e caixas de som. E o famoso mixer do Ely. Avançamos na madrugada gravando em nosso Estúdio. Tudo era de uma precariedade absoluta. Hoje com MP3, som digital, dolby, surrounder e estúdios a disposição, constatamos que “Bailei na Curva” deu certo por uma obra do destino que puxava os cordões muito além de nós. O Flávio que também era bancário antes de libertar o artista dentro dele, foi dormir e o Ely cansou. Fiquei de terminar a trilha na manhã seguinte. Fiz a edição final do som. Na última hora resolvi colocar a música que Beto Guedes fez para o filho dele. Era uma apologia a vida e usei na cena em que o bebê era embalado enquanto Ana lia o poema final. Além da beleza da música, o título era também o nome do meu sobrinho.
Foi pensando no Gabriel Moojen que inseri esta música.

Elipse 2

Gabriel foi meu primeiro sobrinho, primeiro neto, primeiro tudo. Carismático desde que nasceu foi imensamente pararicado pela família. Fez o Curso de Jornalismo e, recém saído da faculdade assumiu a apresentação do Prgrama Radar na TVE Porto Alegre. O sucesso foi tão grande que logo foi para a RBS TV e criou o PATROLA. Da RBS foi pas MTV e passou anos viajando pelo mundo no programa Mochilão. Hoje trabalha na Rede Globo.

Um comentário:

Anônimo disse...

me parece q esses "cordões" q puxaram o Bailei na Curvar foram justamente a precariedade absoluta q se referiu no texto....tamanha dificuldade são desafios e exigem almas por inteiro se doando. nada comprado pronto...tudo feito em casa com a marca do esforço ali empresso.
Parabéns!
Luíza Roberta Dias.